SOBRE
COMO SURGIU O GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUÍDAS?
A proposta do Grito dos Excluídos e Excluídas nasceu em uma reunião de avalição do processo da 2ª Semana Social Brasileia, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que aconteceu nos anos de 1993 e 1994. Surgiu como forma de dar continuidade e concretizar os debates e o tema da semana “Brasil, alternativas e protagonistas”, ou “O Brasil que a gente quer”. Assim como, inspirada no lema da Campanha da Fraternidade de 95, que tinha por tema “Fraternidade e Excluídos” e lema: “Eras tu, Senhor? ”
Entre as motivações que levaram à escolha do dia 7 de setembro para a realização do Grito estão a de fazer um contraponto ao Grito da Independência, proclamado por um príncipe, em 1822. Nesse sentido, desde 1995, o Grito dos Excluídos e Excluídas tem como objetivo levar às ruas e praças, os gritos ocultos e sufocados, silenciosos e silenciados, que emergem dos campos, porões e periferias da sociedade. Trata-se de revelar, à luz do dia e diante da opinião pública, as dores e sofrimentos que governos e autoridades tendem a varrer para debaixo do tapete. Trazer à superfície os males e correntes profundas que atormentam o dia-a-dia da população de baixa renda.
O primeiro Grito dos Excluídos e Excluídas foi realizado em 7 de setembro de 1995, tendo como lema “A vida em primeiro lugar”, e ecoou em 170 localidades. Em Aparecida/SP, aconteceu junto com a Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadores, parceria que continua até hoje.
Já, em 1993, em Montes Claros/MG, havia acontecido o “Clamor dos Sem Teto”, posteriormente identificado como precursor do Grito dos Excluídos. A mobilização ocorreu após visitas às ocupações urbanas durante a Campanha da Fraternidade, daquele ano, que tinha o tema: Onde Moras? Como estava próximo ao 7 de setembro, foi feita uma parada cívica durante o desfile oficial, as famílias organizadas, os jovens e todos os simpatizantes àquela causa tomaram as ruas, com cartazes que manifestavam a indignação da situação em que se encontravam os moradores das favelas de Montes Claros.
A partir de 1996, o Grito dos Excluídos e Excluídas foi assumido pela CNBB que o aprovou em sua Assembleia Geral, como parte do PRNM (Projeto Rumo ao Novo Milênio - doc. 56 nº 129). Desde sempre, é um projeto vinculado à dimensão sócio transformadora da CNBB, localizado no Setor das Pastorais Sociais.
A cada ano, o Grito se efetiva como uma imensa construção coletiva, antes, durante e após o 7 de Setembro. Mais do que uma articulação, é um processo, é uma manifestação popular carregada de simbolismo, que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas, pastorais e movimentos populares e sociais comprometidos com as causas dos excluídos e excluídas. Ele brota do chão, é ecumênico e vivido na prática das lutas populares por direitos.
A proposta não só questiona os padrões de independência do povo brasileiro, mas ajuda na reflexão para um Brasil que se quer cada vez melhor e mais justo para todos os cidadãos e cidadãs. Assim, é um espaço aberto para denúncias sobre as mais variadas formas de exclusão.
POR QUE O 7 DE SETEMBRO?
Desde 1995, o Grito dos Excluídos e Excluídas acontece no dia 7 de setembro, dia oficial da comemoração da independência do Brasil. Nada melhor do que esta data para refletir sobre a soberania nacional. Nesta perspectiva, o Grito se propõe a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa e de participação, colaborando na construção de uma nova sociedade, justa, solidária, plural e fraterna.
Nestes 29 anos de trajetória, o Grito faz um contraponto à história oficial da independência do Brasil. Na contramão dos desfiles cívicos e militares, que sempre marcaram o 7 de Setembro, conclama o povo, sobretudo os pobres e excluídos, a descerem das arquibancadas, deixar o patriotismo passivo, e ocupar praças e ruas na defesa de seus direitos.
Assim, o Dia da Pátria se tornou também em um dia de consciência política de luta por uma nova ordem nacional e mundial. O Grito mudou a cara do 7 de Setembro e da Semana da Pátria. Em todo o país, a cada ano, multiplicam-se manifestações e atividades, por meio de variadas formas de luta e linguagens: celebrações, atos, caminhadas, romarias, seminários, rodas de conversa, festivais, concursos de redação nas escolas, apresentações de música, teatro, dança, poesia, café na praça, programas de rádio, carros e bicicletas de som, lives.
DIA D DO GRITO
O Grito é um processo que compreende um tempo de preparação e pré-mobilização, seguido de compromissos concretos que dão continuidade às atividades. Por isso não se limita às ações do dia 07 de setembro, mas acontece antes, durante e depois de setembro. Esse processo de reflexão mobilizações é construído por meio de reuniões, lutas específicas do dia a dia, debates, formação de lideranças que ocorrem durante o ano todo e tem seu tempo mais forte no mês de setembro.
Nesse sentido, a partir de 2020, vem se ampliando também a realização do Dia D do Grito, uma decisão aprovada pelo conjunto dos articuladores e articuladoras, de todo o Brasil, que acontece nos dias 7 de cada mês, antes (pré-Gritos) e depois do 7 de Setembro. A atividade tem sido um espaço de reflexão e debate sobre variados temas sociais locais e nacionais.
MARCAS DO GRITO
A Criatividade, a Metodologia e o Protagonismo dos Excluídos são marcas do Grito, que privilegia a participação ampla, aberta e plural. Os mais diferentes atores e sujeitos sociais se unem numa causa comum, sem deixar de lado sua especificidade.
Criatividade/Ousadia
A cada ano, o Grito tem um lema nacional, que pode ser trabalhado regionalmente, a partir da conjuntura e da cultura locais. As manifestações são múltiplas e variadas, de acordo com a criatividade dos envolvidos: caminhadas, desfiles, celebrações especiais, romarias, atos públicos, procissões, pré-Gritos, cursos, seminários, palestras, rodas de conversa, concurso de redações, teatro, forrós, lives…
Metodologia
O Grito não começa e nem termina no 7 de Setembro, porque não é um evento, mas um processo de reflexão e construção coletiva, que se dá durante todo ano. Privilegia a participação ampla, aberta e plural.
Protagonismo dos Excluídos e Excluídas
É fundamental que os próprios excluídos e excluídas assumam a direção do Grito em todas as fases – preparação, realização e continuidade, o que ainda é um horizonte a ser alcançado.
ESTRUTURA ORGANIZATIVA
O Grito dos Excluídos e Excluídas conta com uma Coordenação Nacional, Secretaria Nacional, Coordenações locais e estaduais. O diferencial é a rede de articuladores e articuladoras e voluntários espalhados pelos rincões do Brasil, que ajudam a animar o processo de construção.
O Grito não tem personalidade jurídica própria, não tem sede própria, nem funcionários. O trabalho é desenvolvimento em parceria, o que representa uma de suas riquezas. A Secretaria Nacional funciona na sede do SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes. Para efeitos de prestação de contas, uma das entidades que fazem parte da coordenação nacional responde como pessoa jurídica.
Hoje compõem a Coordenação Nacional: Comissão 8 da CNBB; as Pastorais e Organismos: PO (Pastoral Operária), SPM (Serviço Pastoral dos Migrantes), PPR (Pastoral do Povo da Rua), PCR (Pastoral Carcerária), PAB (Pastoral Afro Brasileira), CPT (Comissão Pastoral da Terra), PJ (Pastoral da Juventude), PJMP (Pastoral da Juventude do Meio Popular), CB (Cáritas Brasileira), CNLB (Conselho Nacional de Leigos e Leigas do Brasil), PMM (Pastoral da Mulher Marginalizada), CPP (Conselho Pastoral dos Pescadores). Entidades: CMP (Central dos Movimentos Populares), MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), Jubileu Sul Brasil, Romaria dos Trabalhadores/as, JOC (Juventude Operária Católica), Rede Rua, Sefras (Serviço Franciscano de Assistência), CEBs, 6ª SSB (Semana Social Brasileira).
A coordenação é sempre um espaço aberto a entidades e movimentos que queiram comprometer-se com o Grito dos Excluídos e Excluídas.
SUGESTÕES DE COMO ORGANIZAR O GRITO
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Garantir que os excluídos e excluídas tenham participação efetiva na organização, divulgação e realização do Grito, definição de local, formas de manifestação etc;
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Onde ainda não há uma equipe coordenadora/animadora contribuir para sua criação;
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Buscar as Pastorais Sociais, Movimentos Populares e Sociais e demais entidades para organizar uma equipe para coordenar, animar e dinamizar as Rodas de Conversa, os Pré-Grito, e o Grito nos bairros, cidades, dioceses, regiões;
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Que cada pastoral, movimento e entidade participante assuma a proposta e a construção do Grito na sua agenda, motive e divulgue em seus veículos de comunicação;
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Levar e discutir a proposta, o tema e o lema do Grito nas escolas, movimentos populares e sociais, sindicatos, associações, igrejas, ONGs, comunidades... Sempre buscando ampliar as parcerias;
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Incentivar a realização de concursos de redação, gincanas, teatros, exposições de fotos, programas de rádio, festivais de música, poesia, dança... sobre o tema e lema do Grito;
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Organizar cursos, palestras, seminários e debates, tendo como objetivo elevar o nível de consciência do povo, a partir do tema e lema do Grito;
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Priorizar a linguagem simbólica, criativa e poética aos discursos;
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Participar das lutas diárias como forma de melhor organizar e preparar o Grito dos Excluídos e Excluídas;
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Que os Gritos ecoados nas ruas e praças se tornem pautas de reivindicações junto aos poderes locais...